quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Não leve o Tinder tão a sério

Por Valquíria Vita
valquiria@txtconteudo.com.br

Uma pesquisa confirmou o que muita gente já sabia: o Tinder é um joguinho triste de jogar. Até concluir o óbvio, no entanto, pesquisadores de Oxford precisaram analisar 19 milhões (!) de mensagens trocadas pelo Tinder. Vamos falar em Tinder, mas pense que isso se aplica ao Happn, ao Grindr e a qualquer outro aplicativo que você, solteiro, possa estar se agarrando. Porque é tudo farinha do mesmo saco da ilusão.

A história é mais repetitiva do que assassinato em novela: você acha alguém bonitinho (veja bem que não precisa nem ser lindo, já estamos falando de gente bonitinha), dá um like, ele te dá um like de volta, vocês trocam algumas mensagens. O interessante nessas mensagens é que algumas pessoas agem como se fossem realmente íntimas umas das outras e relatam detalhes do seu dia, como se os dois ali já fossem velhos conhecidos rumo a um relacionamento sério. Mas a conversa, que parece estar fluindo tão bem, morre, sem qualquer tipo de aviso prévio, apenas alguns dias depois. E com isso, inicia-se um embate interior de quem ficou no vácuo:

“Por que será que ele não me escreveu mais?”
“Ai meu deus, será que eu não devia ter falado aquilo?”
“Será que ele olhou melhor as minhas fotos e não gostou?”
“Será que sou eu?”
“Sim, com certeza sou eu”
“Nossa, que perdedor, eu não consigo nem manter um papo no Tinder, cara, imagina na vida real!”
“Tem algo muito errado comigo, eu já sabia, isso só confirmou!”

Para.

A boa notícia nessa história toda é que se você achava que isso só acontecia com você, você achou errado. A pesquisa de Oxford mostrou que a incoerência nos aplicativos de solteiros está justamente aí: na falta de continuação das conversas. A maioria daquelas mensagens analisadas pelos pesquisadores ficou sem resposta também.

E por que? Porque quase ninguém está levando aquela conversa a sério. O Tinder é uma coisa tão rápida, tão superficial –  e tem tanta gente lá para conversar – que fica difícil mesmo manter o foco e o interesse em uma pessoa só.

O estudo comprova que não, não há nada errado com você. Isso é uma tendência geral. As conversas morrem no Happn e no Tinder, e morrem com a mesma facilidade mesmo quando migram para o Whatsapp. O desinteresse não escolhe o aplicativo. O importante é entender que isso não é nada pessoal, não é você que está fazendo nada errado. Apenas… Não leve o Tinder tão a sério!

Talvez falte lembrar que a sua noite mais legal não foi aquela que você ficou em casa dando match nos boys do Happn. E sim, aquela que, sem ter sequer planejado nada, você conheceu alguém que te ensinou, com a maior paciência do mundo, a dançar forró. Talvez te falte apenas um pouco de animação para sair da cama e conversar de verdade com pessoas que não estão atrás de um celular.


*Se você, por alguma razão, realmente encontrou uma pessoa interessante em um aplicativo de solteiros – e hoje em dia está mantendo um relacionamento SÉRIO com ela – por favor, escreva para mim e conte sua história. Adoro casos que fogem à regra.


Publicado no blog da Level Cult:
http://levelcult.com.br/1238-2/

terça-feira, 9 de agosto de 2016

A arte de cometer erros – e por que ninguém pode te impedir


Por Valquiria Vita
valquiria@txtconteudo.com.br

Sabe quando teus amigos têm um plano, e você já sabe, mesmo antes de ser concretizado, que aquilo vai dar errado? São diversas as ideias ruins. Eu seria capaz de escrever um livro somente sobre elas (grande parte, ideias minhas também). E eles te contam, porque não basta terem uma ideia ruim, eles precisam passar isso adiante. E você fica com cara de “hmmmm”, mas, na sua mente, você já foi capaz de prever tudo o que vai acontecer. E sabe que ali vai dar uma merda.

Alguns exemplos de ideias claramente ruins, baseados em tragédias reais:

“Vou tomar mais uma tequila. Não jantei, mas foda-se!”
“Vou parar com o anticoncepcional!”
“Vou morar em outro país. Não tenho um real, mas lá eu dou um jeito”
“Vou ir para Buenos Aires. De ônibus!”
“Vou abrir uma empresa com meu ex. Nos damos tão bem!”
“Vou sair para jantar com minha ex, mas nada a ver, super de boa, só para conversar mesmo”


Note que grande parte das cagadas da vida jovem envolvem fazer algo relacionado a um ex. Eu sou uma grande embaixadora da causa “Não mantenha grandes contatos com seu ex. Especialmente contatos físicos.” Se há algo que eu possa ensinar com esse texto, que seja isso. Evite dramas. Mantenha-se afastado.
A questão, e o que tenho observado nos últimos anos, é que não adianta você dizer para esse amigo que ele vai cometer um erro. Assim como você também não escuta quando alguém tenta te dizer o mesmo. Essa é a beleza das cagadas da vida. A pessoa precisa errar, precisa quebrar a cara, para depois, quem sabe, aprender. Alguns não aprendem. É preciso descer a escada da balada rolando para lembrar de nunca mais tomar mais de uma tequila sem ter jantado. É preciso passar pela maior fossa da vida para entender que você, realmente, não deveria ter namorado durante o intercâmbio, porque a separação seria inevitável.
Pense nas coisas que você, definitivamente, não faz mais. Certamente não as faz porque teve alguma experiência ruim, que você precisou viver e se foder para nunca mais querer repetir — e não porque alguém te disse que aquilo seria uma má ideia.
Uma vez eu me frustrava quando via que meus amigos não ouviam os meus conselhos (sou geminiana e tenho necessidade de ser obedecida ouvida). Mas hoje em dia adotei essa postura mais desprendida. Mesmo sabendo que sou eu quem vai ter que ir lá e emprestar o ombro pro choro quando ele cair na real, ou segurar o cabelo na hora do vômito quando aquela bebida não cair bem.
Porque amizade é isso. Amizade é estar lá para ver o erro de perto, é consolar, é segurar o cabelo.  Mesmo que, lá no fundo, enquanto você faz tudo isso,  só o que você consegue pensar é na clássica: “Eu já sabia!”

Texto publicado no blog da Level Cult: http://levelcult.com.br/a-arte-de-cometer-erros-e-por-que-ninguem-pode-te-impedir/