quarta-feira, 21 de setembro de 2016

LADO B Antoninho Rossi

Na juventude, o pai de Antoninho o fazia trabalhar na Rossi como forma de castigo cada vez que o garoto aprontava. Com o tempo, mais do que aprender a gostar do trabalho, ele tomou a frente do negócio da família

Por Valquíria Vita

    Poucos dias antes dessa entrevista, Antoninho Rossi, 83 anos, comentava com os amigos no Bar 13 que não tinha motivos para reclamar da vida. “Eu acho que eu tive uma vida muito feliz. Desde pequeno, sempre foi bom”, repetiu a frase que havia dito aos amigos.
    Acompanhado pela filha Eloísa, Antoninho contou as histórias de sua vida que se misturam às histórias da Livraria Rossi, negócio da família que ele aprendeu a gostar. “O pãozinho é daqui que eu tiro, eu tenho que gostar”, diz, rindo.
    “A Eloísa está aqui para me lembrar de tudo o que eu esquecer”, explicou, ao iniciarmos.
“Mas eu acho que o senhor lembra mais do que eu”, respondeu ela. Com razão. Antoninho não só lembrou de tudo, como garantiu uma série de risadas durante a conversa. “Ainda venho para a loja todos os dias. Fazer o que em casa? O maior serviço que eu tenho é conversar com a caturrita e dar comidinha para ela”.

Juventude de lazeres (e trabalho como castigo)
Conversar, não só com a caturrita, é algo que Antoninho gosta de fazer desde pequeno, época em que também ganhou o apelido que tem até hoje. Se na família era chamado de Antoninho, no colégio era conhecido como Marcos (o nome completo é Marcos Antônio Rossi).
Apesar de ter nascido em Caxias, ele iniciou os estudos em Antônio Prado, no Colégio dos Maristas. Lá, morou com a avó. “Não sei se era porque minha mãe tinha muitos filhos ou estava muito atarefada, mas eu fiquei com minha avó durante quatro anos”, conta, falando das duas irmãs, Lígia e Mariana (falecidas), e do irmão, Tito.
Após o ensino primário, Antoninho voltou a Caxias e ingressou no colégio do Carmo. “Eu me achava uma maravilha de aluno, o professor, não”, diz. “Nunca gostei muito de Português, gostava de Ciências. Principalmente quando a gente ia para o laboratório, que era uma festa”.
    Fora do colégio, jogava bola com um grupo de amigos na avenida Júlio de Castilhos, à noite. “A gente só parava de jogar quando vinha um auto”, diz, lembrando de uma época em que não eram muitos os carros que passavam pela Júlio. Além de futebol na rua, Antoninho também foi jogador de vôlei pelo Clube Cruzeiro.
    Desde cedo, o pai, Armando, que já era dono da Rossi, na época uma gráfica, colocava Antoninho no trabalho. “Quando eu fazia muita arte, causava algum problema, eu tinha que ir trabalhar”, conta. Mas o que começou como uma espécie de castigo virou, de certa forma, um prazer. “Trabalhei em todas as funções na gráfica. Eu que desenvolvi a fabricação de etiquetas e eu gostava muito.”
    Quando não estava na escola ou na Rossi, Antoninho diz que se divertia “com todos os lazeres que existiam”. Suas preferências eram cinema, “íamos muito ao cinema na época, não tinha televisão”, e os bailes. Foi num desses bailes do clube Guarany que conheceu Leda e a tirou para dançar. E com ela se casou anos mais tarde.

Um homem de família (envolvida nos negócios)
    Aos 18 anos, no entanto, um acontecimento fez com que ele desse uma pausa na vida que levava para poder servir o quartel. “Eu não queria. Arrumei até um atestado na escola dizendo que não podia sair de Caxias e o cara do quartel me olhou e disse ‘não, tu vai para lá e fim’”. E assim, junto com um grupo de jovens de Caxias, Antoninho pegou o trem até Porto Alegre, onde serviu a Polícia Especial, P.E., durante quase um ano.
    Nesse período telefonava para Leda quando podia e a visitava nos finais de semana que voltava a Caxias. Eles se casaram em 1956, na igreja de São Pelegrino, abençoados pelo padre Giordani. O sonho de Antoninho, conta Eloísa, era ter um filho homem. Mas, em vez disso, foi abençoado com quatro filhas: além de Eloísa, tiveram Denise, Henriete e Daniela. “Foi muito bom criá-las. Nunca me deram problema algum”, diz ele.
    Um momento difícil e, certamente, o mais difícil de todos, foi quando a filha mais velha, Denise, faleceu, aos 19 anos. Após anos visitando médicos que não descobriam a causa de uma dor na perna da jovem, o cardiologista de Antoninho pediu para que ele levasse a filha lá, já que sempre ouvia falar dela nas visitas do pai. E foi ele que descobriu que ela estava com um câncer, em uma época em que os tratamentos avançados não existiam.
    Todas as outras filhas trabalharam, pelo menos em algum momento, na Rossi — que hoje já está passando para o comando da quarta geração, os netos de Antoninho (bisnetos de Armando, que iniciou o negócio nos anos 20).
    O neto Marcos André Rossi hoje já toma conta da loja. Além dele, Antoninho e Leda têm outros cinco netos: Andréia, Marcela, Bruno, Luiza e Felipe. “Meu pai é super família”, conta Eloísa.

A firma (e um plano de futuro bem simples)
    Não houve um momento específico em que Antoninho decidiu que queria tomar conta do negócio da família. “Não foi uma decisão, foi algo natural, o caminho a seguir”. Deste caminho ele diz não ter arrependimentos. É claro que nem tudo deu certo nesses anos todos a frente da Rossi. “A firma teve altos e baixos, fiz alguns negócios desastrosos, mas tranquilo,” diz, contando sobre a época em que a Rossi construiu um pavilhão para começar a produzir rótulos para uma grande empresa. A empresa quebrou, e o plano da Rossi também. “Recolhemos os trapinhos que sobraram e voltamos para cá.”
Depois de algumas outras mudanças, ele e os irmãos, que eram os sócios após o falecimento do pai, decidiram separar a gráfica da livraria. E Antoninho acabou comandando a livraria. Hoje, não existe mais a parte da gráfica, apenas a da livraria, que segue bem no mercado: possui quatro lojas na cidade e 80 funcionários.
    Além do prazer de circular entre clientes, funcionários e livros, Antoninho é apaixonado por leitura. “Ele devora livros”, diz a filha. Outro lazer, que aparece logo após esse, é assistir aos jogos do Juventude. “Houve uma época em que eu tinha os companheiros de Jaconi, íamos ao campo com sol ou com chuva. Mas hoje todos já morreram.”
Ele também gosta de passar os verões em Torres, onde a família tem casa. Religioso (vai a missa todos os domingos), é muito próximo do padre Mario Pedrotti, da igreja de São Pelegrino, que também vai a Torres: “Temos conversas profundas sobre a existência de Deus.”
    Finalizando a conversa de uma forma simples e objetiva (o que parece combinar muito com sua personalidade), Antoninho tira apenas uma conclusão sobre seus planos atuais:  
“Quero apenas continuar vivendo.” 

Publicado na revista Acontece Sul, em setembro de 2016. 

 

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Não leve o Tinder tão a sério

Por Valquíria Vita
valquiria@txtconteudo.com.br

Uma pesquisa confirmou o que muita gente já sabia: o Tinder é um joguinho triste de jogar. Até concluir o óbvio, no entanto, pesquisadores de Oxford precisaram analisar 19 milhões (!) de mensagens trocadas pelo Tinder. Vamos falar em Tinder, mas pense que isso se aplica ao Happn, ao Grindr e a qualquer outro aplicativo que você, solteiro, possa estar se agarrando. Porque é tudo farinha do mesmo saco da ilusão.

A história é mais repetitiva do que assassinato em novela: você acha alguém bonitinho (veja bem que não precisa nem ser lindo, já estamos falando de gente bonitinha), dá um like, ele te dá um like de volta, vocês trocam algumas mensagens. O interessante nessas mensagens é que algumas pessoas agem como se fossem realmente íntimas umas das outras e relatam detalhes do seu dia, como se os dois ali já fossem velhos conhecidos rumo a um relacionamento sério. Mas a conversa, que parece estar fluindo tão bem, morre, sem qualquer tipo de aviso prévio, apenas alguns dias depois. E com isso, inicia-se um embate interior de quem ficou no vácuo:

“Por que será que ele não me escreveu mais?”
“Ai meu deus, será que eu não devia ter falado aquilo?”
“Será que ele olhou melhor as minhas fotos e não gostou?”
“Será que sou eu?”
“Sim, com certeza sou eu”
“Nossa, que perdedor, eu não consigo nem manter um papo no Tinder, cara, imagina na vida real!”
“Tem algo muito errado comigo, eu já sabia, isso só confirmou!”

Para.

A boa notícia nessa história toda é que se você achava que isso só acontecia com você, você achou errado. A pesquisa de Oxford mostrou que a incoerência nos aplicativos de solteiros está justamente aí: na falta de continuação das conversas. A maioria daquelas mensagens analisadas pelos pesquisadores ficou sem resposta também.

E por que? Porque quase ninguém está levando aquela conversa a sério. O Tinder é uma coisa tão rápida, tão superficial –  e tem tanta gente lá para conversar – que fica difícil mesmo manter o foco e o interesse em uma pessoa só.

O estudo comprova que não, não há nada errado com você. Isso é uma tendência geral. As conversas morrem no Happn e no Tinder, e morrem com a mesma facilidade mesmo quando migram para o Whatsapp. O desinteresse não escolhe o aplicativo. O importante é entender que isso não é nada pessoal, não é você que está fazendo nada errado. Apenas… Não leve o Tinder tão a sério!

Talvez falte lembrar que a sua noite mais legal não foi aquela que você ficou em casa dando match nos boys do Happn. E sim, aquela que, sem ter sequer planejado nada, você conheceu alguém que te ensinou, com a maior paciência do mundo, a dançar forró. Talvez te falte apenas um pouco de animação para sair da cama e conversar de verdade com pessoas que não estão atrás de um celular.


*Se você, por alguma razão, realmente encontrou uma pessoa interessante em um aplicativo de solteiros – e hoje em dia está mantendo um relacionamento SÉRIO com ela – por favor, escreva para mim e conte sua história. Adoro casos que fogem à regra.


Publicado no blog da Level Cult:
http://levelcult.com.br/1238-2/

terça-feira, 9 de agosto de 2016

A arte de cometer erros – e por que ninguém pode te impedir


Por Valquiria Vita
valquiria@txtconteudo.com.br

Sabe quando teus amigos têm um plano, e você já sabe, mesmo antes de ser concretizado, que aquilo vai dar errado? São diversas as ideias ruins. Eu seria capaz de escrever um livro somente sobre elas (grande parte, ideias minhas também). E eles te contam, porque não basta terem uma ideia ruim, eles precisam passar isso adiante. E você fica com cara de “hmmmm”, mas, na sua mente, você já foi capaz de prever tudo o que vai acontecer. E sabe que ali vai dar uma merda.

Alguns exemplos de ideias claramente ruins, baseados em tragédias reais:

“Vou tomar mais uma tequila. Não jantei, mas foda-se!”
“Vou parar com o anticoncepcional!”
“Vou morar em outro país. Não tenho um real, mas lá eu dou um jeito”
“Vou ir para Buenos Aires. De ônibus!”
“Vou abrir uma empresa com meu ex. Nos damos tão bem!”
“Vou sair para jantar com minha ex, mas nada a ver, super de boa, só para conversar mesmo”


Note que grande parte das cagadas da vida jovem envolvem fazer algo relacionado a um ex. Eu sou uma grande embaixadora da causa “Não mantenha grandes contatos com seu ex. Especialmente contatos físicos.” Se há algo que eu possa ensinar com esse texto, que seja isso. Evite dramas. Mantenha-se afastado.
A questão, e o que tenho observado nos últimos anos, é que não adianta você dizer para esse amigo que ele vai cometer um erro. Assim como você também não escuta quando alguém tenta te dizer o mesmo. Essa é a beleza das cagadas da vida. A pessoa precisa errar, precisa quebrar a cara, para depois, quem sabe, aprender. Alguns não aprendem. É preciso descer a escada da balada rolando para lembrar de nunca mais tomar mais de uma tequila sem ter jantado. É preciso passar pela maior fossa da vida para entender que você, realmente, não deveria ter namorado durante o intercâmbio, porque a separação seria inevitável.
Pense nas coisas que você, definitivamente, não faz mais. Certamente não as faz porque teve alguma experiência ruim, que você precisou viver e se foder para nunca mais querer repetir — e não porque alguém te disse que aquilo seria uma má ideia.
Uma vez eu me frustrava quando via que meus amigos não ouviam os meus conselhos (sou geminiana e tenho necessidade de ser obedecida ouvida). Mas hoje em dia adotei essa postura mais desprendida. Mesmo sabendo que sou eu quem vai ter que ir lá e emprestar o ombro pro choro quando ele cair na real, ou segurar o cabelo na hora do vômito quando aquela bebida não cair bem.
Porque amizade é isso. Amizade é estar lá para ver o erro de perto, é consolar, é segurar o cabelo.  Mesmo que, lá no fundo, enquanto você faz tudo isso,  só o que você consegue pensar é na clássica: “Eu já sabia!”

Texto publicado no blog da Level Cult: http://levelcult.com.br/a-arte-de-cometer-erros-e-por-que-ninguem-pode-te-impedir/

terça-feira, 19 de julho de 2016

RENATO ARIOTTI: Lado B, Julho


O padre, que tem o ‘servir com alegria’ como lema, já sabia 
de sua vocação ainda na infância



Por Valquíria Vita

   “O corpo de Cristo”, diz o padre, ao apresentar a hóstia aos fieis. Ele prossegue, com o cálice: “O sangue de Cristo”. A cena ocorre na década de 60, em uma casa em Bento Gonçalves, onde a hóstia é uma bolacha Maria; o vinho, Ki-Suco de uva; os fieis, as crianças do bairro; e o protagonista, um menino que imitava o ritual assistido na igreja. Era esta a brincadeira preferida de Renato Ariotti, que mostrava, desde cedo, sua vocação para ser padre.
   Simpático, entusiasmado e alegre são palavras que rapidamente definem Renato, padre na paróquia Santa Catarina, em Caxias do Sul. “O lema que escolhi para a minha vida é um trecho do Salmo 99: ‘Servir com alegria’”, conta ele, sentado em sua sala de trabalho na casa paroquial. “Passar alegria para as pessoas no mundo de hoje, com tantos problemas e dificuldades, é muito importante. Não é viver no mundo da lua: é ter os pés no chão, ao mesmo tempo em que se pode ajudar as pessoas a terem ânimo. Porque com ânimo é mais fácil sobreviver”.
   Padre Renato é do time de otimistas que conseguem ver uma luz até mesmo nas situações de dor. Este otimismo é crucial, principalmente porque ele realiza sepultamentos quase todos os dias — e é dele a função de confortar parentes e amigos com palavras.
É descenessário perguntar ao padre se ele gosta da vida que escolheu — a satisfação com o trabalho que desempenha diariamente está em suas falas e em seu olhar. A recompensa é ver essa felicidade transmitida para as outras pessoas. “Noto que as pessoas saem contentes, saem bem aqui da igreja, isso é importante para um padre.”


Uma longa trajetória 
Filho de Francisco Ariotti e Irdes Milani Ariotti, Renato nasceu em 15 de abril de 1961, em Bento Gonçalves. Além das brincadeiras de rezar missa, passava tempo com a irmã, Márcia, e com os amigos da rua. “Já tinha em meu coração esse desejo de ser padre. Quando eu tinha 14 anos, eu pegava santinhos e distribuía para os doentes no hospital”, conta o padre que, com essa idade, também aprendeu a tocar violão.
Renato frequentou a escola das irmãs do Sagrado Coração de Jesus até a oitava série. Aos 15 anos, teve de deixar Bento Gonçalves para iniciar oficialmente a busca pela carreira religiosa, no Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias. Sair de casa pela primeira vez foi muito difícil, lembra ele. Demorou até que se acostumasse sem a presença constante dos pais, da irmã e dos amigos. Mas logo, a rotina atribulada com aulas do seminário e as aulas de catequese que ministrava, amenizou a saudade de casa. Com isso, ele começou a se envolver com grupos de jovens e atividades de final de semana nas comunidades.
Renato cursou Filosofia na UCS, seguida de Teologia na PUC. “Na PUC, estudava de manhã e de tarde. E notava que, ao meio dia, tinha sempre um grupo de funcionários que ficava em baixo das árvores. Juntamente com outro colega, Hélio, eu arrumei um violão e nós começamos a ficar em baixo das árvores com eles, cantávamos e conversávamos. E os professores ficavam muito impressionados que nós conhecíamos os funcionários pelos nomes!”, relata.  
Após a ordenação, em 1986, Renato teve experiências em vários locais: trabalhou no Santuário de Caravaggio, deu aulas no Seminário Aparecida, foi promotor vocacional (visitava os jovens das paróquias para inspirá-los a se tornarem padres), atuou na Paróquia Santos Apóstolos, em Cazuza Ferreira e, atualmente, está há sete anos na paróquia Santa Catarina – comunidade que ele sabe que, daqui a algum tempo, também terá de se despedir e partir para uma próxima igreja.  
Essas despedidas são sempre cheias de emoção. Ao sair da Paróquia Santos Apóstolos, conta o padre, a comunidade de um dos bairros envolvidos, o Panazzolo, lhe presenteeou com um acordeon. “E eu fico contente porque tem três pessoas que disseram que se inspiraram em mim para aprender acordeon: o Mateus, o Gabriel e a  Poliana”, diz, mostrando as fotos dos três, que já foram seus coroinhas. “Para meu padrinho musical”, diz o autógrafo no CD de um deles, que hoje, aos 18 anos, faz parte de uma banda gaúcha.

O papeleiro Miguel, Scooby e Preta
Padre Renato e o papeleiro Miguel dos Santos nunca se conheceram, mas os dois possuem uma ligação muito forte. O momento mais marcante dos 30 anos de sacerdócio de Renato – três décadas comemoradas este ano – foi após a morte de Miguel, em 2012. Era um dia de setembro e, como de costume, a secretária lhe avisou que havia um sepultamento para aquele dia. O que chamou a atenção do padre é que se tratava de um sepultamento de um papeleiro que havia sido queimado por menores de idade. “Foi um enterro rápido e com pouca gente. A comoção era mais dos jornais, por causa da notícia, do que propriamente de quem estava ali, pois ele não tinha família”, conta. “E quando fizemos o enterro desse homem, descobrimos que ele só tinha dois amigos: os dois cachorros. E eles precisavam de adoção”, diz o padre, que levou os dois cães para viverem com ele na casa paroquial.
Os cachorros, Scooby e Preta, vivem desde 2012 no pátio da casa, em uma casinha doada pela comunidade, ao lado de um memorial criado pelo padre, onde estão expostas algumas das notícias sobre a morte do papeleiro, que virou notícia nacional. “Miguel vive”, diz o mural, próximo ao carrinho que o papeleiro costumava levar pela cidade.
“Deste limão”, diz Renato, referindo-se à situação, “saiu uma limonada”. Além de publicar um livro chamado “Miguel”, para homenagear o papeleiro e promover a cultura da paz, Renato aproximou-se de projetos da justiça restaurativa, com quem criou um movimento chamado Círculos da Paz. Além disso, aproximou-se de escolas, que trazem as crianças para visitar os cachorros e conhecer o projeto, e criou vínculos com a Soama e com os papeleiros. “Disso brotou todo esse trabalho pela paz. É uma pequena sementinha.”

“Eu celebro junto”
Plantar sementes faz parte do trabalho de um padre – o que nem sempre é simples. O maior desafio hoje, conta Renato, é conseguir levar a mensagem de Jesus em um mundo que é extremamente técnico e individualista, o oposto do que Jesus pregava. “Sinto que precisamos olhar para o outro não como concorrentes, mas como irmãos”.
Ensinamentos de Jesus fazem parte dos programas de rádio conduzidos pelo padre. Um na rádio Viva, em que dá uma bênção às 7h55 da manhã aos domingos, e outro na São Francisco, programa que apresenta há 20 anos. Todos os dias, quem sintoniza na São Francisco às 5h55 da manhã pode escutá-lo no Oração da Esperança. O programa, “feito no amor”, como diz o padre, é gravado de um pequeno estúdio no próprio quarto e enviado para a rádio. Mas nem por isso ele acorda mais tarde. “Acordo 5h45, levanto às 6h30 e faço minhas orações”, diz o padre que, no restante do dia se divide entre reuniões, aconselhamentos, conversas, celebrações, sepultamentos e missas.
Entre os lazeres, além da música, adora jogar xadrez e canastra. “E procuro caminhar sempre. Eu era mais gordinho, emagreci”, conta, tocando com as duas mãos na barriga. Além disso, muita leitura faz parte do cotidiano do padre, para garantir material para os sermões na igreja. “Tento trazer a palavra de Jesus para o dia a dia”, conta o padre que tem, entre suas influências, São Francisco, Oscar Bertoldo e Dom Paulo Moretto. Este último fez sua ordenação, o que é, até hoje, um dos momentos mais felizes da trajetória de Renato. “Outros aniversários de ordenação foram importantes também, além de batizados e casamentos que me marcaram. Eu procuro viver o momento, não só fazer a celebração por fazer. Celebro junto”, diz, acrescentando que, muitas vezes, sofre junto também. Entre os momentos mais difíceis até hoje, está o dia em que teve de realizar o sepultamento da mãe, há cinco anos. “Porque, queira ou não, ser padre é ser filho”, diz, relatando outros momentos tristes que também teve de enfrentar – mesmo assim, mantendo o otimismo: “Com a benção de Deus, eu olho para trás e digo: ‘Obrigado, Senhor! Porque em todos os momentos, a gente pode aprender algo’”.

Texto publicado na revista Acontece de Julho de 2016. 

terça-feira, 12 de julho de 2016

Empatia: Se você ainda não possui, desenvolva

Por Valquíria Vita
valquiria@txtconteudo.com.br


Nem todas as pessoas desenvolvem as mesmas qualidades. Algumas pessoas são bonitas, outras são simpáticas, outras, inteligentes, algumas, boas de cama e outras (poucas) sabem estacionar entre dois carros em um morro. O fato é que é praticamente impossível que uma pessoa possua todas essas características positivas. Se você acha que possui todas elas, provavelmente, você se acha demais. Repense.

E é super aceitável (e, inclusive, esperado) que a pessoa não seja apenas virtudes. Existe uma qualidade, no entanto, que não é intrínseca a todos os seres humanos, mas que, diferentemente de beleza e inteligência, deveria sim, fazer parte de todos nós.
Falo da empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro, de tentar (pelo menos, tentar) compreender sentimentos e emoções da outra pessoa, ou então de apenas demonstrar interesse no outro.

Parece algo simples e óbvio, mas quanto mais conheço e convivo com pessoas, mais me convenço de que a empatia é uma característica em falta nos seres humanos.
As pessoas querem ser ouvidas. Fato. O que é normal, aliás. Mas quem quer ser ouvido, tem que saber que também precisa ouvir. É uma via de mão dupla. Caso contrário, isso se chama terapia, análise… (e a sessão custa R$ 200 a hora — porque só quem ganha bem tem saco para isso).

Todas as formas de relação, sejam elas amorosas, de amizade ou  familiares, fazem parte dessa via de duas mãos. Se não está tendo tráfego nos dois lados dessa rua, é porque algo está errado. Você tem que dar um pouco e receber um pouco (de preferência, em mesma quantidade). Princípios básicos de relacionamento, que ainda precisam ser explicados.
Portanto, não seja aquele ser auto-centrado que só sabe falar de si mesmo, que acha que todo mundo quer ouvir as suas histórias durante o jantar (na maioria das vezes, as pessoas não querem ouvir história nenhuma, sejamos francos). Não seja aquela pessoa que quando alguém pergunta “tudo bem?”, responde com um “tudo”, e, dali em diante, desata a falar sem parar, esquecendo da óbvia pergunta de volta “e tu, tudo bem também?”.

Não alugue as pessoas. Se precisar disso, ok; algumas fases da vida requerem um certo apoio psicológico dos conhecidos… em alguns momentos, precisamos mesmo ser mais ouvidos do que em outros. Mas esteja disposto a retribuir essa atenção, interesse-se pela outra pessoa de volta. Nem que você tenha que fingir este interesse, pelo menos no início. Com o tempo, a empatia virá naturalmente, e você vai ver que nem foi tão difícil assim — e que escutar as histórias dos outros pode ser tão interessante quanto dividir as suas. Quem sabe você até não encontra soluções para suas situações a partir das situações relatadas por outras pessoas?

A empatia é simples e a falta dela é uma questão ainda mais fácil de ser resolvida. Faça um esforço, nem que esse esforço seja diário, e, pelo bem da vida em sociedade, se você acha que ainda não a possui, desenvolva-a.


Texto publicado no blog da Level Cult:
http://levelcult.com.br/empatia/

Diminuindo as expectativas e se decepcionando muito menos

Por Valquíria Vita
valquiria.vita@gmail.com

Quando eu era repórter de jornal, tive que fazer uma pauta sobre índios. Li muito, pesquisei, assisti documentários, fiz de tudo para chegar na pauta super preparada para entrevistá-los. Fiquei sabendo de uma tribo perto da minha cidade e, com a maior empolgação que uma repórter de 22 anos poderia ter, fui até lá, bem feliz, com meu bloquinho e caneta.
Minha ideia era ver como viviam os índios hoje, conversar com eles e aprender algumas coisas que toda aquela pesquisa certamente não tinha me ensinado. Minha expectativa era alta, não vou negar. Me imaginava tipo Gloria Maria, quando se aventura por uma tribo ou uma região desconhecida, e sai de lá uma nova pessoa, com a alma renovada, feliz, com pinturas no rosto e tatuagens nos braços.
A realidade, claro, foi bem menos glamurosa. Chegando na tribo, me deparo com um carro. Um carro, gente. Não era exatamente o que eu esperava encontrar... De dentro do carro, emanava, em volume altíssimo, aquela música “Sexy Bitch”, do Akon e David Guetta — “nothing you can compare to your neighborhood hoe, I'm trying to find the words to describe this girl without being disrespectfuuuuul”...
Queria que o fotógrafo que me acompanhava tivesse tirado uma foto da minha cara naquele momento, porque certamente aquele seria o retrato da decepção. E eu teria revelado a foto e colocado na parede, para me lembrar de nunca mais elevar as expectativas tanto assim.
A a situação “carro de som” contribuiu para mostrar que a ideia que as pessoas ainda tinham sobre os índios não correspondia à realidade. Mas a maior lição que tirei daquilo tudo foi sobre altas expectativas.
Tenho observado algumas pessoas, que, assim como eu, são extremamente imaginativas, sonhadoras e, logicamente, vivem quebrando a cara. Sempre acham que a coisa vai ser muito mais emocionante do que ela realmente é. Isso deve ser mais comum em quem assiste bastante filme, só pode.
Outro dia, conversando com umas meninas na academia, falávamos de conhecidos que não víamos há tempos, e o papo era só “ah, fulana está decepcionado com a vida”, “fulano está meio deprê com a profissão…” Até que uma das meninas, super realística, disse: “Mas o que que esse povo achava que a vida ia ser? A vida é isso aí mesmo, pessoal!”. Achei essa simples frase de uma genialidade imensa.
Por uma série de motivos (sejam eles coisas que vemos nos filmes, nas séries ou algo que outras pessoas possam ter nos falado) temos uma expectativa altíssima em relação às coisas, ao futuro. Principalmente quando a gente está na escola e na faculdade. Meu deus, como a gente sonha quando está nessa época! Parece que, logo no dia seguinte à formatura, a vida se encarrega de te jogar na cara um balde tão grande de água fria, que algumas pessoas ficam até meio desnorteadas. 





O segredo é justamente não ficar desnorteado por muito tempo e se recuperar desse balde — e dos outros 2 mil que vão te jogar ao longo do tempo — e partir para a próxima. Qualquer que seja a sua expectativa, seja ela em relação ao trabalho, às amizades, ao namoro, à vida de solteiro... tudo aquilo que você imaginava que seria uma coisa fantástica, mas que, no dia a dia, se revelou ser bem menos do que isso… esteja preparado para algumas surpresas. E para aceitar diferentes realidades daquela que você esperava.  
Lembre sempre que, apesar do que as redes sociais podem estar mostrando, está todo mundo na mesma situação, todo mundo quebrando a cara frequentemente. E a vida é isso aí mesmo. Não é exatamente aquilo que te disseram que seria… Mas tudo bem! Não desanima, não. Quando você aceitar isso, vai estar mais preparado para enfrentar com bom humor tudo o que vier, até mesmo tribos indígenas ouvindo Sexy Bitch. 






quarta-feira, 22 de junho de 2016

LADO B Teresinha Isabel Rihl Tregansin


Viva e deixe os outros viverem é o lema da escritora que soma em sua trajetória uma lista extensa de ações voluntárias e trabalhos dedicados à cultura

Por Valquíria Vita

    A banda nacional rufou os tambores para anunciar a entrada do rei e da rainha da Suécia, dando início ao jantar. O rei, Carl Gustav, exibindo todas as suas condecorações; a rainha, Sylvia, deslumbrante em um vestido vermelho. O jantar, com iguarias suecas e regado a vinhos da África do Sul, foi embalado com músicas clássicas entoadas por quatro senhoras. Na colocação da mesa, homens e mulheres intercalados simetricamente, tais quais os inúmeros talheres e taças dispostos na mesa, em quantidade exagerada, típica dos jantares pomposos. Após o banquete, uma banda de jazz embalou a dança dos casais. Depois, todos foram convidados para assistir a um coral de 20 vozes que se apresentou do lado de fora, em um tablado flutuante em frente  a ilha onde acontecia o evento — organizado em homenagem aos concessionários Scania do mundo todo. Entre os convidados, o casal Valdir e Teresinha Tregansin.   
É Tere, mais de 20 anos depois, quem conta essa história, relembrando detalhes que outros, de memória não tão aguçada, já teriam esquecido. Na época, a escritora acompanhava o marido, que trabalhava para a Scania, em uma das viagens feitas à Suécia, cidade sede da marca.
A habilidade em contar histórias e descrever acontecimentos é apenas uma das características de Tere. A outra, certamente deve ser a modéstia. No primeiro contato que tivemos, por telefone, ao saber que seria entrevistada, ela perguntou: “Mas será que eu sou merecedora de uma matéria assim?”
Tere adiantou que o marido havia falecido recentemente. E comentou que, desde então, estava sentindo uma tristeza que nunca antes havia experimentado — mas que sabia que, com o tempo, conseguiria voltar à vida normal. E com essa conclusão, a qual  chegou ali mesmo, naquela primeira ligação, Tere concordou em conceder a entrevista.
Nos encontramos alguns dias depois, em um café. A entrevista — em que Tere, entre outras histórias, contou sobre o jantar real na Suécia — foi encaixada na rotina da escritora, que se divide entre reuniões bem distintas: “Reuniões do Conselho da Mulher Empresária da CIC; do grupo da igreja; do grupo de literatura infantil; da Academia Caxiense de Letras e reuniões com as amigas”, elenca.

Lembranças de uma infância feliz em Galópolis
    Tere começou a conversa relembrando os saudosos anos em que passou a infância em Galópolis, localidade em que nasceu, em 26 de agosto de 1941. “Lembranças da infância…”, ela suspira. “Lembro do verde que cerca Galópolis, do rio que corta o vale em que eu tomava banho com as minhas amigas, do morro que subíamos à procura do sanguanel (figura mítica da cultura italiana) e da cascata de 100 metros de queda”.
    “Foi uma infância tranquila, então...”, completo. “Foi… mas meu pai se metia em cada briga…”, destaca ela. O pai de Tere, Ivo Arno Rihl, o único dentista de Galópolis, usava o tempo livre após as consultas para fazer campanha para o Partido de Representação Popular, na década de 50.
Se de um lado o envolvimento com a política do pai fez com que Tere cultivasse uma simpatia pelo assunto, por outro, ela guarda até hoje as lembranças do lado negro da cena política naquela época: “A parte que eu detestava era ver meu pai levar socos, tabefes e pontapés por causa disso. Eles não matavam, mas eles batiam”.
    Tere e o pai tinham uma relação muito próxima. Era ela — a mais velha dos seis irmãos (Mércia, Rogério, Sônia, Suzana, Roberto e Alexandre) —  quem acompanhava o pai em emocionantes viagens ao centro de Caxias em cima de um motociclo do tempo da Segunda Guerra Mundial. A relíquia automobilística do pai foi vendida quando Tere tinha 11 anos, para que ele conseguisse comprar para ela um acordeão, instrumento que Tere toca até hoje — no último Natal, com filhos e netos reunidos na praia, Tere tocou Noite Feliz.
    Ela viveu em Galópolis até os 13 anos, quando a família inteira se mudou para Caxias.

O amor pela escrita. E por Valdir
Normalmente, existe um momento — ou um período — em que percebemos o que queremos fazer de nossas vidas. Para Tere, esse momento ocorreu no colégio, durante uma aula de Português ministrada por uma freira. A professora pediu que os alunos reproduzissem um trecho do escritor português Eça de Queiroz. “No dia seguinte, ela disse que iria ler apenas a melhor reprodução da classe. E, para a minha surpresa, foi a minha. ‘Se Eça de Queiroz pudesse ler a tua reprodução, ele ficaria muito feliz’, a irmã disse. E essa frase me marcou muito, que eu acho até um pouco forte, não seria merecedora”, diz Tere, novamente questionando se merecia o elogio.
    Desde o incentivo da irmã, passaram-se alguns anos até que Tere lançasse o seu primeiro livro. Começou com O Dente de Ouro e hoje já soma mais cinco obras no currículo: A esperança cruza os mares; Galópolis El Profondo Vale Verde (onde demonstra sua profunda paixão pela localidade); Arte e Memória, Os Ferozes (que também tem Galópolis como cenário) e Viagem Maravilhosa à Terra dos Vikings (escrito após uma viagem à Suécia). Atualmente, está elaborando novos trabalhos: Kira – A cachorrinha salvadora e A Procissão. Além disso, está organizando uma coletânea de perfis de pessoas ilustres de Galópolis e dando continuação a um livro chamado Nossas Mulheres.
O dom com as palavras foi aperfeiçoado durante a graduação, em que a escritora cursou Letras com foco em História Regional e Literatura Infanto-juvenil, pela Universidade de Caxias do Sul.
Aos 19 anos,     Tere trabalhava em uma concessionária Mercedes Benz. O serviço de datilografar faturas na época pré-computador não era nada emocionante, mas lhe rendeu um encontro com o futuro amor de sua vida: Valdir, quatro anos mais velho, que trabalhava no mesmo segmento.  
Após o primeiro contato, Valdir enviou à ela um buquê de rosas, “bem romântico”, diz Tere. “Cheguei em casa e disse para a minha mãe que um rapaz  que diziam que era muito correto havia me mandado esse buquê. Aí minha mãe botou o nome dele para Nossa Senhora de Fátima, porque ela disse que estava sentindo algo. Quatro anos depois estávamos casados”, narra Tere. Tere e Valdir se casaram na Catedral de Caxias, em maio de 1967. Nessa parte da conversa, Tere precisa de uns segundos para se recompor e voltar a falar. A perda do marido, que era “o companheiro para tudo”, como ela depois definiu, ainda é muito recente.

Filhos bem encaminhados e viagens memoráveis
    O casal teve três filhos: Rafael, Tiago e Lucas. E Tere volta a se animar quando começa a falar dos três. Ela conta com orgulho que, Rafael, o mais velho, já foi presidente do Sinduscom e hoje é diretor da Viezzer Engenharia. Tiago, mudou-se para os Estados Unidos e hoje tem dois filhos americanos. Lucas já morou e trabalhou na China e hoje vive na África do Sul. Os filhos deram à Tere cinco netos: Dany, Maria Isabel, Gabriel, Frederico e Melissa. A dedicação à família é uma das características de Tere destacadas pelo filho, Rafael: “Minha mãe sempre foi uma pessoa apaziguadora e pronta para escutar, era ela quem intermediava os conflitos entre os irmãos e entre os filhos e o pai”, lembra.
Por conta dos empregos dos filhos em diferentes continentes, Tere e Valdir tiveram a chance de viajar muito: fizeram viagens anuais aos Estados Unidos, além de terem conhecido a China e a África. Por causa do emprego de Valdir, o casal também visitou a Europa muitas vezes. “A gente cumpria a obrigação na Suécia e depois passeava pela Europa”, lembra Tere.
Além do jantar com os reis, outra viagem memorável foi uma ida a Nova Iorque, com o marido e os filhos. Lucas, na época adolescente, estava aprendendo a tocar guitarra, e a família foi até uma loja de instrumentos procurar o modelo ideal para o menino. Enquanto o filho experimentava as diversas opções, Tere começou a andar pela loja, que era gigante. Em certo ponto, ouviu alguém tocar e deu de cara com o cantor Gilberto Gil, que estava testando uma guitarra. “Pedi para ele tocar uma música e ele tocou! Então eu posso dizer que tive Gilberto Gil tocando só para mim”, conta. Ninguém mais presenciou a cena, mas a lembrança, ainda faz Tere sorrir.
    Viajar ocupa a segunda posição no ranking de atividades favoritas de Tere. A primeira, claro, é a leitura. “Depois é o hábito de me renovar vendo o mar, amo a beleza do litoral”, diz Tere, frequentadora da praia de Atlântida. A frase tem tudo a ver com o que disse Rafael, o filho mais velho: “Com a minha mãe, aprendi a gostar da subjetividade e a procurar a beleza poética em coisas simples que, no dia a dia, tornam a vida mais doce e menos dura”.

Esforços voluntários em busca de pessoas melhores
        É desde a fundação do Conselho da Mulher Empresária da CIC, em 1997, que Tere está envolvida com a entidade. Ela responde pela parte cultural da organização. O serviço não é remunerado, assim como outras atividades de Tere, como o grupo “As Teresinhas”,  que estão construindo a Igreja de Santa Teresinha do Menino Jesus e um Centro de Formação de Mães e Adolescentes  no Bairro Fátima Baixo, em Caxias.
A dedicação à cultura é extremamente presente na vida de Tere. Sempre foi. “Descobri a arte quando a antiga revista O Cruzeiro estampou a obra de Salvador Dalí”, conta. Entre seus envolvimentos culturais, se destacam o de presidente do Núcleo de Artes Visuais de Caxias (Navi), onde lembra ter passado oito meses acompanhando a restauração de um painel de Aldo Locatelli.
Tere também foi presidente da Associação dos Amigos da Casa da Cultura; integrante de comissões comunitárias da Festa da Uva; diretora do Departamento Cultural do Recreio da Juventude; membro do Conselho Municipal de Cultura e hoje é Vice-Presidente da Academia Caxiense de Letras de Caxias: “Acredito que a cultura é um meio de as pessoas se humanizarem. Se elas se interessam por cultura, elas podem ser pessoas melhores”, explica Tere, definindo seu lema de vida em uma frase simples: “Viva e deixe os outros viverem”. 
  

Matéria publicada no Lado B Junho 2016 na Revista Acontece Sul.