segunda-feira, 20 de julho de 2015

LADO B - LUIZ CARLOS DE LUCENA

Por Valquiria Vita


Aos 73 anos, Luiz Carlos de Lucena prova que “viver em paz com todos” é sempre a melhor alternativa 

       Algumas pessoas têm a sorte de olhar para o passado e não sentir arrependimento algum. Luiz Carlos de Lucena é uma delas.
    “Eu faria tudo de novo, sem mexer” diz, aos 73 anos de idade, esbanjando histórias e deixando claro que ainda pretende ser protagonista de muitas outras. 
   Já que “escrever é viver duas vezes”, como ele mesmo diz, Lucena acumula em sua trajetória cinco livros publicados. “E a gente só escreve o que viveu”, diz. “Escrever é uma terapia, evita que tu penses bobagens.” 
      Lucena também adora conversar. É daqueles que não consegue ir para a rua sem encontrar um conhecido e parar por uns minutos para bater um papo. E, como todo bom tradicionalista, adora contar um bom causo. Em sua obra mais recente, “Apaguei a Luz do Vagalume”, ele conta vários. A natureza é personagem atuante nos seus textos e retratada de forma peculiar pelo autor, como nas primeiras páginas do livro, que dizem que “vestindo pijama pontilhado pelo brilho das estrelas, o sol prepara-se para o descanso da noite no berço do universo.”
     Tanta intimidade com a natureza tem origem na infância, vivida em Cazuza Ferreira, no 3° Distrito de São Francisco de Paula, ao lado dos três irmãos. Na época, uma das atividades preferidas de Lucena era fazer incursões na mata (que hoje, lembra ele, infelizmente, já não existe mais). Nessas expedições, Lucena recolhia vagalumes e os aprisionava em um pote de vidro, só para levá-los para casa e lá ficar a observar seu “incansável acende e apaga.” Sua mãe, Hilda, ao descobrir os vagalumes trancafiados, obrigou o filho a devolvê-los ao mato, originando, com isso, o título do livro que o guri escreveria muitas décadas mais tarde. 
     Hoje, Dona Hilda ficaria orgulhosa do filho, que, além dos livros, também contabiliza 30 anos como jornalista e 30 anos como assessor de relações institucionais. 
     Tudo começou quando Lucena, ainda piá, declamava uma poesia em um CTG em Canela, na época em que estava se iniciando o Movimento Tradicionalista Gaúcho no Estado. A boa oratória chamou a atenção do professor e locutor Elzaide Ramos, que o convidou para trabalhar na Rádio Clube de Canela. Depois disso, Lucena mudou-se para Caxias, em 1957, após ser selecionado para a vaga de radialista na Rádio Caxias. “Todo mundo começou na rádio Caxias,” conta ele. 
E, de Caxias do Sul, ele nunca mais saiu. Após apresentar diversos programas na rádio e tornar-se uma voz familiar na comunidade, Lucena ingressou na TV Caxias, Canal 8, tornando-se, também, um rosto familiar da comunidade. 
      Dos Anos 60 aos Anos 80, ele passou pelos cargos de locutor de cabine, chefe do departamento de pessoal, gerente comercial/executivo e apresentador do Jornal Hoje. Nos seus anos de televisão, Lucena colecionou memórias incríveis, como a de estar presente na implantação e realização da primeira transmissão de tevê à cores no Brasil, nos Anos 70, quando todos os olhos do país se voltaram a Caxias do Sul. 
     Após ter trabalhado em rádio e em televisão, Lucena passou a integrar a equipe do Jornal Pioneiro, onde escreveu semanalmente a coluna “Indústria e Comércio”. Depois, coordenou a UCS TV, Canal 15. 
    Além de todas essas funções, Lucena, com personalidade volátil e energia inesgotável, também prestou serviços de vendas em diversas empresas e fundou uma corretora de seguros, uma granja, uma empresa de embalagens e uma editora. 
    “Tu fizeste bastante coisa, hein?” pergunto. 
    “Mas com 73 anos... tem que ter feito, né?” responde ele. “É assim… Minha vida é dividida em dois ciclos: 30 anos em rádio, TV e jornal, e os próximos 30 anos na Visate (Viação Santa Tereza), onde sou assessor de relações institucionais até hoje,” diz Lucena, que agora é conhecido por muitos justamente como “O Lucena da Visate”. “Depois de ser jornalista, fui para o outro lado da mesa e uma atividade somou muito para a outra. Agradeço muito aos colegas do rádio, jornal e TV porque eles sempre mantiveram a parceria desde que eu fui para o lado institucional.”
    Lucena iniciou o trabalho da Visate juntamente com a criação da empresa, o que justifica seu comprometimento 30 anos depois. “E eu pretendo ainda trabalhar muito, enquanto a saúde me ajudar e eu puder ajudar a empresa,” diz ele, sobre seus planos. 
   Sua intensa atuação na cidade rendeu-lhe o título de Cidadão Caxiense e o troféu Associação Riograndense de Imprensa, ARI Serra Gaúcha. 
   “E a fruta não cai longe do pé,” conta a filha mais velha, Fabiana de Lucena, que decidiu ser jornalista apesar de os conselhos do pai para que não seguisse a mesma carreira (de muito trabalho e pouca valorização). “Mas eu ia na TV Caxias na época em que ele trabalhava lá, assistia ao Jornal do Almoço de uma janelinha que dava pra ver o estúdio e eu pensava ‘é isso o que eu quero fazer’,” diz Fabiana, hoje jornalista da prefeitura. 
     Para ela, o pai não é somente exemplo de profissão, mas também exemplo de como levar a vida. “Ele sempre levou a vida muito numa boa. Absolutamente nada tira ele de sério,” conta Fabiana. “E ele fez muitas amizades ao longo da trajetória de vida, amizades que ele valoriza muito.”
     Lucena também valoriza imensamente a família. Diz que considera os filhos “uma dádiva de sequência da vida, a continuidade da espécie, do clã.” Fabiana, Renata, Cláudia e Tiago são frutos do casamento de Lucena com Maria Helena, que durou 32 anos. “Os momentos mais felizes da minha vida foram os nascimentos de cada um dos meus filhos. Inclusive fui privilegiado com gêmeas, ou seja, dois nascimentos em questão de minutos,” diz o comunicador que já tem cinco netos, Bernardo, Clarissa, Henrique, Flávia e Laura. 


     Além de passar tempo com a família, a escrita também está entre seus lazeres. É a companheira, Eliana Casagrande (juntos há 15 anos), que o mais incentiva a escrever e publicar. Além de “Apaguei a Luz do Vagalume”, Lucena, membro da Academia Caxiense de Letras, também publicou “Do Meu Jeito”, “Do Meu Tempo”, “No Aconchego dos Meus Pelegos” e “Onde Amarrei Meu Peixe”. “Desse relacionamento (com Eliana), nasceram esses cinco livros,” brinca o escritor. 
      Lucena também se diverte com outras atividades, entre eles “comer no restaurante Danúbio e tomar minha aguinha batento terra com os amigos.” Ele e Eliana também gostam muito de viajar. “Ele tem um pé que é um leque,” diz a filha, Fabiana. 
      De menino do CTG com aptidão para falar em público a um dos mais conhecidos nomes da comunicação caxiense, Lucena diz que segue uma filosofia de vida muito simples: “Levar a vida com lealdade, simplicidade e humildade, preservando a família e os amigos e vivendo em paz com todos é o melhor que se tem.”



Perfil publicado no Lado B da Revista Acontece Sul _ Julho 2015. Link original aqui.