sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Lado B - Luiza Horn Iotti

Perfil publicado na Revista Acontece em Agosto de 2014. 

Link original aqui 



Por Valquíria Vitta

Influenciada por uma grande professora, a jovem que queria estudar arquitetura em Porto Alegre virou uma conceituada historiadora de Caxias

As bonecas que Luiza Horn Iotti ganhava dos pais quando criança teriam ficado intactas – se não fosse pelo fato de que seus três irmãos mais novos, Leon, Eduardo e Carlos Henrique, adoravam aprontar com elas. Luiza não se interessava nem um pouco pelas bonecas. Também não conseguia se sentir à vontade nas aulas que seus pais a matricularam, tentando dar a ela uma educação diferenciada da dos irmãos. Enquanto Luiza dançava ballet na Dora, os meninos jogavam futebol. Enquanto ela aprendia a tocar piano, eles se divertiam descendo morros com carrinhos de lomba. “Eu preferia muito mais as brincadeiras de menino, subir em árvore, ficar na rua. Boneca e piano não eram pra mim.”
A solução foi matar toda essa vontade de brincar na rua com um grupo de amigos da Alfredo Chaves, rua onde morava. As crianças ficavam até muito tarde brincando ao ar livre – vantagem permitida pela tranquilidade do Centro de Caxias na década de 60.
O fato é que a menina espoleta que vivia ao redor dos meninos acabou se tornando uma ótima aluna na escola.  Começou a ler e escrever aos quatro anos de idade, antes mesmo de entrar no colégio, e, durante todo o período em que estudou, se mostrou uma estudante muito aplicada. Gostou tanto de ler que decidiu que queria ensinar, e acabou virando professora. Hoje, aos 57 anos de idade, Luiza já tem mais de três décadas de experiência em sala de aula, vários anos de pesquisa acadêmica e quatro livros lançados, além de estar à frente do Instituto Memória Histórica e Cultural da Universidade de Caxias do Sul.
Luiza nasceu em 23 de outubro de 1957 e é a filha mais velha de Silvestre Iotti e Zoé Maria Horn Iotti. Quando criança, tinha duas amigas inseparáveis, com as quais mantém a amizade até hoje: Eveline Corsetti e Taísa Menegotto. As meninas passavam muito tempo na empresa de uma tia de Luiza, Cora Kunz, e foi lá que, muito cedo, ela conheceu as letras e as palavras. Luiza aprendeu a ler e a escrever observando um funcionário gravá-las nas caixas que embalavam os produtos.
Os pais de Luiza conseguiram que a menina entrasse na primeira série do colégio Presidente Vargas, aos cinco anos, após passar por um exame. Depois, Luiza frequentou a Escola Normal Duque de Caxias e o Cristóvão Mendonza. Não fez Magistério porque diz que a ideia de dar aula, na época, definitivamente não a atraía. “A minha mãe era professora e eu não queria isso de jeito nenhum. Eu via ela dando aula e sempre achava que fosse uma profissão difícil e pouco valorizada.”
Quando prestou vestibular, Luiza colocou arquitetura como primeira opção – história era a quarta. Sair de Caxias (e ganhar a liberdade do pai) era o desejo mais forte de Luiza – bem mais forte, pelo menos, do que a vontade de cursar arquitetura. “Eu queria ir a Porto Alegre, esse era o meu sonho.” Quando Luiza recebeu a notícia de que havia passado no vestibular, correu para a festa dos bixos na mesma hora. “Quando eu vi meu nome na lista dos aprovados eu fiquei super feliz,” conta. Na empolgação, no entanto, esqueceu-se de conferir para qual de suas opções havia sido aprovada. E foi somente depois da festa que ela descobriu que, ao invés de arquitetura em Porto Alegre, havia sido selecionada para cursar história em Caxias. “Eu sentei na calçada e chorei. Para mim, aquilo era tudo de ruim. Fui para casa muito triste e todos me davam parabéns. E eu preferia estar recebendo os pêsames.”
Passada a choradeira, os pais conseguiram convencê-la a ingressar na faculdade de história e cursar pelo menos um semestre – depois, o combinado era que ela poderia prestar vestibular novamente e abraçar mais uma vez a chance de ser livre em Porto Alegre, longe dos pais.
Dizem que os professores de faculdade influenciam a vida dos alunos. No caso de Luiza, isso não apenas foi verdade, como a influência de uma de suas professoras garantiu que ela tomasse o rumo que tomou. A aula era História do Brasil e a professora era Loraine Slomp Giron. Luiza, sem a menor pretensão de tornar-se historiadora, acabou descobrindo-se naquela aula uma apaixonada pela história. “Eu adorei. As aulas da Loraine eram polêmicas, ela nos fazia ter um outro olhar sobre a História. Eu aprendi que não existe uma verdade absoluta, que é fundamental conhecer a historiografia.”
Antes mesmo de terminar a graduação – a formatura na UCS em Licenciatura Plena em História foi em 1978 – Luiza já estava seguindo a profissão que, quando pequena, achava que nunca seguiria: era professora na Escola Estadual Ismael Chaves Barcellos, em Galópolis. Depois, de 1979 a 1981, trabalhou no Colégio do Carmo. Mas foi na rede estadual que Luiza lecionou por 32 anos. “Passei por vários colégios.” Além de professora, ter seguido a carreira de história fez com que Luiza também fosse diretora de colégios, historiadora no Museu Municipal de Caxias e no Arquivo Histórico e coordenadora da Casa da Cultura.
Em 1986 ela começou a dar aula na UCS, o que ainda faz até hoje. “Eu adoro dar aula. Me dá a possibilidade de ter contato com jovens e com crianças e de ver que posso fazer algo por elas, transformar alguma coisa. Eu realmente acredito que a educação transforma as pessoas. Em especial nas Ciências Humanas.”
Mais do que educar, Luiza encontrou também na área de História outra paixão: a da pesquisa acadêmica. Suas pequisas, atualmente, giram em torno de imigração italiana e história do judiciário. “Eu gosto de mexer em documentos, de descobrir a história,” explica.
O momento mais marcante nesses anos todos, Luiza conta com orgulho, foi quando ela teve a oportunidade de influenciar uma aluna tanto quanto Loraine a influenciou anos antes. “Eu tinha uma aluna no Apolinário chamada Rute que gostava tanto das minhas aulas de história que ela veio fazer a graduação de história na UCS. Na metade do curso, ela engravidou. E batizou a menina de Luiza.” O acontecimento já se passou há tantos anos que a Luiza em questão já é até mãe. Rute, até hoje, dá aulas de história no Apolinário, onde conheceu a professora que tanto se espelhou. “Existem muitas recompensas em ser profe,” diz Luiza.  
Luiza fez mestrado e doutorado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Nessa trajetória, ela conheceu outra professora que a marcou profundamente: Núncia Santoro de Constantino, que a apresentou ao mundo da pesquisa. Sob a orientação de Núncia, Luiza dissertou sobre O Olhar do poder: a imigração italiana no Rio Grande do Sul, de 1875 a 1914, e depois sobre a Imigração e poder: a palavra oficial sobre os imigrantes italianos no Rio Grande do Sul (1875-1914).“Foi ótimo, me abriu os horizontes, me ensinou a trabalhar com pesquisa e me tornou alguém mais humilde. Quanto mais estudamos, mais percebemos o que não sabemos.” 
Hoje, além de dar aula no curso de graduação e no mestrado de História da UCS, Luiza é editora da Revista Métis: história & cultura e diretora do Instituto Memória Histórica e Cultural da universidade, instituto responsável por preservar, tornar acessível e divulgar a história e cultura da região. Ela divide seu tempo entre o trabalho na UCS e a família, que diz ser muito unida. “Geralmente a família se reúne para aquela coisa de gringo: comer e beber,” diz. “Não tenho filhos, mas tenho seis sobrinhos maravilhosos, que eu amo de paixão: Eduardo, Rafael, Camila, Ana Paula, Lucas e Carolina.” É também com o marido, Ronaldo, que ela aproveita as horas livres. “O que nós gostamos mesmo é de ficar em casa.”
Ela e Ronaldo se conheceram em 2004, em Porto Alegre, quando ela fazia doutorado. “A gente se encontrou,” diz, ao explicar como os dois se apaixonaram. Dois anos depois, eles se casaram e Ronaldo mudou-se a Caxias. O casamento, conta Luiza, era para ser muito simples: o noivo, a noiva e a família no cartório. Mas graças a uma das sobrinhas, Camila, na época com nove anos de idade, o evento tornou-se algo muito maior do que o imaginado. “Ela disse ‘eu vou de aia. Se é casamento, tem que ter aia e tem que ter convite’”, relembra. Camila se deu ao trabalho de fazer os convites à mão, fechá-los com durex e uma florzinha seca para enfeitar, e convidou a família toda para o evento, sem que Luiza soubesse.
Ao receber o convite, uma das tias de Luiza, Maria Horn, imediatamente a telefonou, indagando: “como é que vai casar e não vai ter vestido da Corina?,” disse, referindo-se à famosa modista de alta costura, que é madrinha de Luiza. Corina acabou fazendo um vestido azul-marinho para que Luiza se casasse no civil com Ronaldo. Dois grandes amigos de Luiza, Maria Lúcia Bettega e Maurício Moraes, organizaram uma bênção do frei Jaime Bettega, e Valdir dos Santos, outro amigo, organizou o cerimonial. “Virou uma super produção!  E veio um monte de gente que a Camila convidou, além dos nossos amigos. No fim, a gente se divertiu um monte,” conta Luiza. 
Camila realizou seu desejo, foi a aia do casamento da tia no cartório. E assinou com os noivos o registro do casamento naquele dia. A foto desse momento, uma das preferidas de Luiza, é uma das que ilustra essa matéria.

LADO B Eliane Worm Portella

Perfil publicado na Revista Acontece, Caxias do Sul, em abril de 2014. 

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Por Valquíria Vita


Desde os 7 anos de idade Eliane já sabia que seria médica. A menina cresceu e descobriu o talento na área de ginecologia e obstetrícia. Hoje, até perdeu as contas de quanto partos já realizou

Eliane Ida Worm Portella, 64 anos, lembra muito bem da primeira vez em que ajudou a trazer um bebê para esse mundo. Naquele dia do ano de 1973, a jovem de 24 anos talvez ainda não soubesse, mas estaria começando ali uma carreira que lhe acompanharia por décadas. Uma carreira tão intensa que, apenas alguns anos mais tarde, a levaria a realizar mais de 40 partos ao mês.
Eliane era uma estudante de medicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e estava trabalhando em um de seus plantões. Nele, conheceu uma paciente grávida, que, depois de ser examinada pela estudante, pediu que ela fizesse seu parto quando a hora chegasse. "Ela simplesmente simpatizou comigo. E eu quase morri de sufoco", conta Eliane.
O parto aconteceu tempos depois, no Hospital Pompéia. Para a jovem mãe, a emoção de segurar seu filho pela primeira vez. Para a jovem médica, a de saber que foi ela a responsável por ajudar àquela mãe a sentir tamanha alegria. Apesar do sufoco e nervosismo da médica, tudo correu extremamente bem. "No dia seguinte, eu estava realizada. A sensação na hora foi muito boa, muito gratificante", diz Eliane, que realizou o primeiro parto com a supervisão de um colega médico.
Essa foi certamente uma das primeiras e mais marcantes experiências de Eliane em Caxias. Nascida em Porto Alegre, ela viveu no bairro Passo Da Areia, com a família, até os 18 anos de idade. O pai, Reinaldo, administrava uma empresa de transporte coletivo, e a mãe, Ella, cuidava da casa e das duas filhas (além de Eliane, de Valburga, que era mais velha). As meninas eram muito próximas da avó materna, que frequentou a casa da família durante toda a infância da médica. O segundo nome de Eliane, Ida, foi dado em homenagem a ela.
Eliane conta que foi a mãe que, de certa forma, a influenciou na escolha profissional que ela tomaria alguns anos adiante: "Minha mãe fazia questão de nos informar sobre medicina e desenvolvimento animal e vegetal. Com livros de anatomia, com gravuras e textos em alemão (origem da família), ela nos fez entender os ciclos biológicos, menstrual, a gravidez e o nascimento das crianças", conta.
Além disso, a médica diz que era comum, na época, abater em casa as galinhas que seriam servidas nas refeições. Cada vez que a mãe fazia isso, Eliane gostava de analisar atentamente o interior do corpo da ave depois de abatida. "Eu achava aquilo admirável."
Além de cultivar o hábito de observar a anatomia dos animais, a médica desenvolveu gosto por fazer curativos – não importando se quem necessitasse deles fosse um dos familiares ou um dos animais domésticos. Aos sete anos de idade, a menina já possuía sua própria caixinha de primeiros socorros.
Eliane ainda se recorda de eventuais visitas ao hospital, em Porto Alegre. Naquele tempo, crianças não podiam entrar em estabelecimento hospitalar e esperavam pelos familiares do lado de fora. E era lá mesmo que a futura médica se encantava ao ver as parteiras saindo do hospital com suas maletinhas. "Eu ficava só observando. Eu amava o hospital."
Desde pequena, Eliane decidiu se dedicar bastante aos estudos. Na escola, ela era uma aluna extremamente dedicada, daquelas que não aceitava notas menores do que 10. Inicialmente, a ideia após o ginásio era cursar Medicina em Porto Alegre – a escolha pelo curso não poderia ter sido outra, diz ela. Mas a concorrência por uma vaga na universidade da capital era muito grande, e Eliane decidiu prestar vestibular também em Caxias do Sul, onde foi aprovada. Foi ali o início de uma nova vida.
Sozinha, aos 17 anos de idade, Eliane mudou-se para uma nova cidade. A ideia de iniciar a carreira que já sonhava há anos foi suficiente para animar a mudança. "Eu não conhecia nada em Caxias, mas aqui pude me realizar", diz ela, contando que não teve obstáculos, a não ser o frio dos primeiros invernos. "Ao contrário, fiz muitas e boas amizades com os colegas, depois com pessoas da comunidade e, finalmente, com meus pacientes."
A jovem começou morando no Hotel Itália, cuja dona era amiga de seu pai. Depois, uma de suas colegas a convidou para morar com ela em um edifício em frente à praça Dante Alighieri. Eliane só se mudou de novo quando se casou pela primeira vez, em 1972, quando estava no quarto ano da faculdade de Medicina.
No quinto ano do curso, ela decidiu a especialização que lhe acompanharia pela vida toda, a ginecologia. Foi nesse mesmo ano, pouco antes de se formar, em 1974, que Eliane teve o primeiro filho, Alex, que hoje vive em Camboriú. Três anos depois, ela teve uma filha, Mariane. Hoje, ela é médica dermatologista e trabalha na mesma clínica onde a mãe segue atuando como ginecologista, no centro de Caxias.
Depois da formatura, muitas oportunidades começaram a surgir para Eliane. A primeira delas foi a criação de um grupo de atendimento a partos, juntamente com professores e colegas da UCS, chamado Progesta. "Compramos o primeiro monitor de partos de Caxias. Na época não havia nem o sonar para escutar o nenê, era ainda um pinar, aquele de colocar no ouvido", conta. Eliane começou a fazer mais e mais partos – e por muito tempo chegou a trazer mais de 40 bebês ao mundo por mês. "Foi a época em que eu mais fiz partos", lembra.
Eliane trabalhava muito. Tinha uma grande quantidade de pacientes e a todas elas prometia estar lá no dia no dia em que a hora chegasse. "Então eu não podia não estar lá," explica. A médica, por vários anos, acostumou-se a ter de levantar da cama a hora que fosse chamada para o hospital. "Eu vivia estonteada pelo cansaço."
continua
Além de atuar no monitoramento dos partos, Eliane e os integrantes do grupo também davam aulas e preparava os casais para a hora do nascimento. Toda essa atividade fez com que ela fosse convidada para participar do Instituto de Ginecologia e Obstetrícia de Caxias do Sul, que perdurou por cerca de 40 anos, no Edifício Estrela.
Foram décadas muito agitadas. Ao longo da carreira como obstetra, Eliane também trabalhou em postos de saúde, prefeitura e sindicato, além de ter se envolvido em diversos projetos e ter lecionado na disciplina de ginecologia da Medicina da UCS. Exerceu esta função durante 23 anos: "Algumas das minhas melhores recordações são de quando eu fui homenageada pelos meus alunos em suas formaturas, e também quando tive a chance de ser paraninfa de uma das turmas", conta.
Eliane lecionou até 2005, ano em que também se separou de seu primeiro marido. Há três anos decidiu afastar-se da obstetrícia e se dedicar apenas a ginecologia. Ela trouxe bebês ao mundo de 1974 até 2011, impossível, portanto, contabilizar quantos partos realizou – essa é, mesmo assim, uma pergunta que ela frequentemente tenta responder a si mesma.
O fato é que o trabalhar tão próxima das pacientes e por tanto tempo, e sendo responsável por um momento tão importante quanto o nascimento de um bebê, fez de Eliane uma profissional realizada. Segundo ela, sempre foi muito satisfatório acompanhar não apenas as mães, mas toda a família, geração após geração. "Em alguns casos, fui até a terceira geração acompanhando gestações. Só não estou fazendo mais porque decidi deixar a atividade obstétrica," diz.
Hoje, ela concentra a maior parte de seu tempo atendendo pacientes no consultório de ginecologia e no estudo e tratamento de reposição hormonal. Desde 2009, está casada novamente, com o médico psiquiatra Valter Portella. Uma vez por semana, vai a Porto Alegre, onde atende em um consultório que divide com o marido. Além destas viagens, também fazem parte de sua rotina atual muitas idas a São Paulo, onde trabalha com o médico endocrinologista Elsimar Coutinho, parceria que criaram há 18 anos.
Todos os finais de semana, Eliane e Valter descansam em Gramado, onde possuem um apartamento. Os dois passam sábados e domingos lendo e vendo filmes. "Somos muito companheiros, fazemos vários programas juntos, inclusive frequentamos a academia duas vezes por semana", conta.
No ano passado, Eliane, que já viu tantos bebês nascerem, ganhou a alegria de ver o primeiro netinho. Nascido em abril, Yan Davi, filho de Alex, é visitado e mimado pela avó sempre que ela e Valter conseguem um tempinho para ir a Camboriú.
A agenda da médica ainda segue cheia. Os planos para os próximos anos são manter-se "trabalhando a mil", como ela mesma define. "No ritmo que estou, está muito bom. Não me sinto mais cansada."

Lado B - Milton Commazzetto

Perfil publicado na Revista Acontece, Caxias do Sul, em setembro de 2014. 

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Por Valquiria Vita



De Tapejara, passando por Farroupilha, Pelotas e Porto Alegre. Descubra a trajetória do psiquiatra que criou laços com Caxias do Sul

Os encontros começaram há quase 25 anos. Um grupo de amigos costumava se reunir para conversar sobre seus assuntos favoritos: cinema, literatura, música e vinhos. Escolhiam a casa de um deles para isso. As reuniões se tornaram tão frequentes, e as amizades tão fortes, que eles decidiram fazer daqueles jantares um compromisso mensal. Criaram, com isso, a Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho Serra Gaúcha. Enquanto conversam, os amigos harmonizam belos pratos com belos vinhos. “Temos até estatutos que definem os ritos das nossas reuniões, como o uso de gravata e capas. Há os responsáveis pela música, pela gastronomia e pelos vinhos. A sociedade nasceu da amizade,” conta o psiquiatra Milton Commazzetto, um dos integrantes. 
É esse um dos lazeres favoritos do médico quando ele está fora dos consultórios psiquiátricos em que atende. Um dos psiquiatras mais renomados de Caxias do Sul, Commazzetto, hoje com 70 anos, acredita que a maior dificuldade da humanidade atual é saber manter as relações. Talvez, justamente por isso, ele faça questão de cultivar as suas. 
Commazzetto (“Dois m’s, dois z’s e dois t’s”, diz ele no início da entrevista – como já deve ter repetido inúmeras vezes ao longo da vida), nasceu em 14 de agosto de 1944 em Tapejara, cidade do interior do Noroeste do Rio Grande do Sul. Seus pais, os caxienses José e Josefina, tiveram, além dele, outros sete filhos. “Eu sou o nenê de uma família de oito,” conta Commazzetto, que teve seis irmãs. “Foi uma coisa muito querida. Como se eu tivesse tido sete mães.”
As lembranças da infância de Commazzetto são muito agradáveis, especialmente porque Tapejara era uma região de campanha e as crianças tinham liberdade para brincar nos campos. A família saiu de lá quando ele tinha 10 anos para residir em Farroupilha. Com apenas 17 anos, Commazzetto tornou-se sócio de uma fábrica de calçados.
Foi na adolescência que Commazzetto começou seu vínculo com Caxias. Juntamente com um grupo de estudantes, ele viajava todas as noites até a cidade para cursar o Científico no Colégio Cristóvão de Mendoza. Commazzetto era integrante da União de Estudantes Farroupilhenses e da União Intermunicipal de Estudantes. Ele escrevia para um jornal estudantil, chamado O Vanguarda, onde tinha uma coluna sobre política e uma sobre cinema. “Eu adorava filmes, hoje não tenho mais tempo para isso,” diz. 
Enquanto trabalhava e envolvia-se no movimento estudantil, Commazzetto nutria uma outra vontade: a de fazer medicina. “Desde jovem, certamente, além do raciocínio consciente, houve razões do coração que determinaram essa escolha.” Mas não bastava apenas a vontade. Para cursar medicina era necessário também um grande investimento, e, para bancar os custos com a faculdade, ele vendeu sua cota da empresa em Farroupilha. “Com o dinheiro, consegui pagar quase toda a faculdade de medicina em Pelotas.”
Ao entrar na faculdade, o jovem Commazzetto decidiu que psiquiatria seria sua especialização. Foi no final dos anos 60, enquanto era bolsista em um hospital de Pelotas, que Commazzetto conheceu Luiza, na época, estagiária de nutrição. O casal, que está junto até hoje, viu o romance iniciar naquele hospital acadêmico.
Após os seis anos de medicina, concluí­dos em 1972, Commazzetto embarcou em três anos de especialização em psiquiatria, depois de passar na prova da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 1973, ele e Luiza se casaram e ela foi com ele a Porto Alegre. Nesse período, ele trabalhou no Hospital São Pedro. “Eu atendia sozinho uma ala feminina de 150 pacientes,” lembra. “Foi uma experiência de vida muito intensa.”
Em 1975, quando concluiu o curso, Commazzetto estava decidido a ficar na Capital, já que tinha um grande grupo de amigos na cidade. Ele rejeitou uma oportunidade de trabalho para voltar a Pelotas. Mas não rejeitou uma chance de vir a Caxias. O médico considerou os laços que já tinha com a cidade: seus pais haviam nascido aqui e ele havia estudado aqui quando era adolescente. Foi difícil deixar Porto Alegre e todos os amigos, mas Commazzetto e a mulher, na época grávida da primeira filha, Carolina, assumiram a nova oportunidade. “Além de uma proposta de trabalho, a UCS abriu as portas para que eu lecionasse na psiquiatria,” conta Commazzetto, que não se arrependeu da decisão de deixar Porto Alegre. “Optei por Caxias. E sou feliz e realizado aqui. Sou muito grato a Caxias, pois aqui fui bem recebido e encontrei um ambiente que me proporcionou viver bem com a minha família.” Ele lecionou na UCS durante três décadas. 
Logo que chegou em Caxias, Commazzetto foi presidente da Associação Médica, e, em 1983, foi vereador pelo PMDB. “Fui o mais votado de Caxias, tenho muito orgulho disso,” diz Commazzetto. “Sempre gostei da política. Desde a época em que escrevia para O Vanguarda.” 
Commazzetto foi vereador por seis anos e passou por momentos em que teve dúvidas se seguia com a carreira política ou se ficava apenas com a psiquiatria. “Foi uma luta muito grande.” 
Sua vida política não se limitou à atuação como vereador. Commazzetto concorreu a vice-prefeito de Caxias com José Ivo Sartori e depois a deputado estadual. Não se elegeu, mas assumiu a Delegacia Regional da Saúde. “Foi na época em que o SUS recém havia sido criado. Foram anos muito difíceis,” lembra.
Como delegado regional da saúde, ele diz ter reunido esforços para a criação de um hospital público em Caxias, na década de 80. “Depois de várias reuniões relatando as dificuldades com o governador Pedro Simon, ele me autorizou a procurar o terreno para construirmos o Hospital Geral,” conta. O hospital foi concluído na sua segunda gestão como delegado da saúde. 
Commazzetto deixou de exercer a vida política, e até hoje segue dedicando a maior parte de seu tempo à psiquiatria, área que lhe encanta cada vez mais. Evoluções como o aperfeiçoamento das medicações, segundo ele, ajudaram a mudar o quadro da psiquiatria. As internações diminuíram muito e a psicanálise e os conceitos Freudianos auxiliaram o entendimento do doente mental. “Nos últimos anos ocorreu uma grande virada no conhecimento nessa área. Foi só há poucos anos que a ciência começou a se debruçar no estudo do cérebro humano. Isso revolucionou a abordagem da psiquiatria.”
O maior desafio em ser médico hoje em dia, segundo Commazzetto, é conciliar os avanços da tecnologia com a boa relação entre o profissional e o paciente. “Essa relação médico-paciente é uma aliança de confiança para uma caminhada quase sempre difícil, em busca dos melhores resultados para o paciente. Mas, hoje, parece-me que esse lado humano, da relação médico-paciente, está perdendo espaço, para a tecnologia e a profissão está tornando-se técnica - o que, a meu ver, é um grande equívoco,” opina Commazzeto. 
O médico ainda tem uma rotina muito agitada, e a aposentadoria ainda não está nos seus planos. “Minha característica é fazer alguma coisa, sempre, então, por enquanto, não sinto a necessidade de mudança. Estou apenas planejando diminuir a carga horária, para poder ter mais tempo para lazer e viagens, mas parar de trabalhar nem pensar.”
Commazzetto e a mulher, Luiza, tiveram três filhos: Carolina, que hoje é farmacêutica e dona de uma farmácia de manipulação, Isabel, que é advogada e Gustavo, que, assim como o pai, é psiquiatra. Eles têm três netos: Maria Luiza, Valentina e Bento.
Além de curtir a família, Commazzetto também se dedica às relações de amizade, como às que mantém com o grupo de apreciação de vinhos que abriu essa matéria. “Todas as pessoas de coração aberto, de alma boa, são agentes de amizade. Quando se gosta de uma pessoa, essas trocas de energias positivas nos fazem muito bem.”

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Did Facebook create a narcissistic generation?

Posted by  on Friday, September 12, 2014 ·

| Val Vita guest writer |

My dad always told my sister and me that we were part of a narcissist generation. I used to think that he was overreacting, but lately, I’m not so sure.
If you rationally think about it, we are very narcissistic. And I would blame social media for that. Especially Mark Zuckerberg’s creation: Facebook.
We are part of a generation that has the urge to post every single thing we do. Almost nothing is private anymore. I knew someone who said, “It’s not on Facebook, so it didn’t happen.”
That was one of the most idiotic statements I’ve ever heard – and one of the incentives that led me to choose Facebook as the central point for my future studies in the graduate school of communication.
The things people post on Facebook remind me of a theory we call Uses and Gratifications. Basically, the theory says we use media to get some kind of gratification out of it. It is not just the media that use us – we also use the media. And I strongly believe people use Facebook for a single purpose: to get “likes.”
Admit it. “Likes” make you feel good. You feel confident. You feel better. It’s like you are selling on Facebook an image of what you would like to be – but not the one that you really are.
Because of this crazy search for likes, in the last months, I talked to several people about selfies, trying to figure out what’s behind this self-obsession trend. And the majority of them actually told me they post pictures of their own faces hoping to get likes out of it. Many even admitted that they delete the picture if they don’t get a meaningful number of likes.
It’s kind of sad, because if you think about it … why is that really important? I mean, in real life (aka life outside of Facebook) what’s the importance of having 50, even 100 likes for a picture or for a Facebook status?
In the last few weeks, it was impossible not to see someone posting the Ice Bucket Challenge. It is for a good cause, they said. But I know a lot of people who didn’t even know why they were throwing cold water on themselves (try to ask them what does ALS mean and I guarantee you will find many who would be nothing but clueless about the answer).
Regardless if people are doing it for the likes or for the cause, the ALS association got more than $100 million in donations. A good marketing example of how you can make money out of social media where people would do anything for likes.
The Ice Bucket Challenge has cooled off and it’s no longer the topic of the day.
But the “me, me, me generation” is eagerly waiting for the next Facebook trend.
I guess my dad was right after all.



segunda-feira, 8 de setembro de 2014

PATRICK'S PEOPLE

  • Brazilian falls in love with PSU

  • Valquiria Vita, Pittsburg State University international student from Caxias Do Sul,
  • Brazil, knows all about love at first sight.

  • Valquiria Vita, Pittsburg State University international student  from Brazil, loved PItt State and the community so much the first time she came in 2012 that she decided to make a return trip to pursue her master's degree in communication. She will graduate in May. NIKKI PATRICK/THE MORNING SUN









    • By Nikki Patrick
      The Morning Sun 

      Posted Sep. 2, 2014 

      Valquiria Vita, Pittsburg State University international student from Caxias Do Sul, Brazil, knows all about love at first sight.
      She first came to Pittsburg as an exchange student in 2012 through an agreement that her university in Brazil had with PSU. Vita said she fell in love with the community  the minute she got here.
      “I was supposed to be here one semester, but I liked it so much that I stayed a year,” she said.
      Because Vita was a journalism graduate, she  applied for a job at the PSU Collegio.
      “I started as a writer and then became managing editor,” she said. “I was the only student  here that summer and didn’t have money to travel, so being managing editor was a good experience for learning. Gerard Attoun, PSU director of publications, taught me a lot.”
      In January of 2013 Vita went home to Brazil.
      “I never thought of graduate school or teaching, but I missed  Pittsburg  so much that I started trying to figure out a way to get back,” she said. “I  applied for a scholarship, was chosen as a teaching  assistant and came back to Pittsburg in January of  2014.”
      She said that she and a professor alternate weeks in teaching a class in performance appreciation and films and theater.
      “There are more  than 100 students in the class, most of them American, and it’s really challenging to speak to more than 100 students,” Vita  said. “I’m not  so much  into theater, but I love films.”
      Her teaching experiences may be a  life-changer for her.
      “I had always just wanted to be a reporter, but now consider the possibility of teaching at a college in Brazil,” Vita said.
      She’s still occasionally writing stories for the Collegio, though as a teaching assistant she can’t accept  pay  for it.
      “In May I and Marcus Clem went to a town that had been hit by a tornado,” Vita said. “We don’t have tornados in Brazil. The people took me  into their home and said, ‘This was the  living room, there was a wall here,’ and it was all destroyed.”
      She added that the weather in Brazil is never as hot as Kansas can get in the summer, and, at least where her home is, it never snows in the winter.
      “We also  don’t eat a lot of fast food, but we usually eat beans and rice very  day,” Vita said

      She will graduate in May with her master’s in communication and, once again, will miss Pittsburg 
      when she leaves. She  said she has made many friends, both Americans and international students from other countries.

      “I live in a big city in Brazil, and it’s not as safe as Pittsburg,” Vita said. “The other night I went to a movie and rode my bicycle home at midnight and felt perfectly safe. We can’t do that in my city in Brazil.”

      She feels that some  people living here may not appreciate the community as much as they should.

      “Sometimes people who live here don’t realize how pretty Pittsburg is,” Vita said.



      Story published on The Morning Sun, on Sept. 2
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