segunda-feira, 15 de abril de 2013

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Pittsburg Rehab


"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser
Amyr Klink

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"Para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse mesmo ponto."
Edgar Allan Poe

Três meses de volta ao Brasil - e ainda não está fácil se acostumar. Passei por dias tão tensos que um dia cheguei a dizer que gostaria de não ter feito essa viagem pros EUA, só pra não ter passado por essa fossa na volta, que já dura desde janeiro. Absurdo esse pensamento, eu sei, mas só pra dar uma dimensão da loucura que uma pessoa pode entrar quando passa por uma experiência dessas. A parte mais punk não é estar lá, é voltar. Você come o pão que o diabo amassou, sério.

Quando a gente volta a gente precisa aprender a ficar feliz com as coisas simples - até porque coisas espetaculares aqui é difícil. Mas me animar com coisas simples sempre foi muito difícil pra mim - já era antes de eu fazer intercâmbio. Agora, depois de ter viajado pra tanto lugar legal e ter conhecido tanta gente boa, é ainda mais desafiador. Vejo as pessoas se empolgando com um final de semana de folga, um domingo que faz sol, em vez de chuva, e penso.. é isso? Sério? Invejo muito, muito mesmo, pessoas que conseguem ser felizes com coisas do dia a dia. E almejo chegar lá. Um dia.

Eu parei de começar minhas frases com "lá nos Estados Unidos era...", porque saturei um pouco meus amigos, eu acho. Agora cada vez que esse pensamento vem na minha mente (umas 200 vezes por dia), eu guardo pra mim. Tipo quando passo numa calçada em Porto Alegre o varredor varre a sujeira nos meus pés, ou quando alguém esbarra em mim quando to no mercado, eu evito de comentar coisas do tipo "em Pittsburg esse varredor não apenas teria parado de varrer, como teria me dado 'bom dia, como você está hoje'?" ou "em Pittsburg ninguém teria esbarrado em mim no Walmart sem ter pedido desculpas e dado um sorriso".

Cada vez que a saudade bate (umas 300 vezes por dia) penso nas pessoas que eu convivi - e nas muitas que também eram estudantes internacionais e tiveram que voltar. E pra resolver esse problema enchi o meu quarto novo de fotos de todo mundo. Ver as fotos das pessoas e das viagens me ajuda, de alguma forma estranha, a seguir tentando me readaptar a minha vida aqui.

Ajuda saber que passei por tudo o que eu tinha que ter passado. Mas ainda assim é difícil. E já tentei muitas outras abordagens pra tentar me sentir melhor - correr (correr, correr, correr...), faxinar a casa, desabafar com ex-intercambistas, longas sessões de skype,  ir pra balada, ficar em casa durante dias, dormir sessões de 14 horas seguidas, assistir 10 episódios seguidos de Greys Anatomy, procurar QUALQUER outra forma de voltar aos EUA, tentar me inscrever até em programa pra jornalistas na Finlandia, ficar com desconhecidos (ok, essa é brincadeirinha ;), me mudar de cidade, etc etc, a lista de atividades segue longa - e ineficiente.

Se alguém tem alguma ideia de onde fica Pittsburg rehab, por favor me avise, porque certamente, esse lugar não é aqui.


"Pittsburg didn't exist. It was just a dream we had"