terça-feira, 21 de agosto de 2012

Quando eu virei uma das editoras do jornal


Meu emprego de verao, como garconete, me proporcionou muitos momentos de reflexao. Enquanto eu organizava pratos e talheres nas mesas e enchia e distribuia dezenas de jarras de agua e ice tea nas mesas durante eventos eu tive tempo pra pensar em muita coisa. Inclusive pra pensar que eu nao tinha estudado cinco anos de jornalismo na UCS e um semestre nos Estados Unidos pra fazer isso.

Dai eu estava voltando justamente de um desses eventos semana passada quando passei pelo meu editor e parei pra conversar com ele. Dizem que as melhores noticias vem quando voce nao esta esperando e foi assim que aconteceu. Ele perguntou se eu ia ficar nos Estados Unidos ateh dezembro, eu disse que sim. Dai ele perguntou o que eu achava de virar managing editor (que eh editor assistente) ateh dezembro! Eu nao precisaria mais escrever tantas materias, e o meu trabalho ia ser decidir as pautas do jornal junto com ele e ajudar no fechamento. E o pagamento seria muito melhor.

Disse sim na hora neh, logico. Quando na vida que eu, Valquirinha, ja fui editora?! Quando contei pra minha mae ela ficou super empolgada com o fato de eles deixarem uma brasileira ser editora num jornal americano. E eu nao tinha pensado nisso.. foi bem legal da parte dele, nao? 

Essa foi a prova que trabalho duro vale a pena. Ralei muito no verao 40 graus aqui, e nas reunioes de pauta era soh eu, o editor e o editor de fotografia. Eu pegava praticamente todas as materias. Sem exageros..Todos os outros reporteres foram pras suas casas nas suas cidades nas ferias, soh eu mesmo tinha ficado aqui. Quando acabou o verao eles me deram um bonus de $50 pelo meu esforco e eu ja tinha ficado ultra emocionada pelo reconhecimento. E pra comemorar peguei esses $50 e comprei um tenis tri bom pra correr hahaha Dai quando disseram que eu estava preparada pra ser editora eu quase nao acreditei. Eu ria sozinha pelo campus, serio.

Eu ainda posso escrever materias, mas nao preciso mais me matar que nem fazia antes. Como reporter eu recebia $30 por materia, entao eu fazia 3 ou 4 por semana. Agora eu posso fazer menos materias, que meu salario vai ser fixo toda semana (aqui nos EUA se recebe por semana, nao por mes). 

Mas eu estou ficando muito mais tempo no jornal do que ficava antes. Como reporter eu podia soh escrever de casa, de pijama e enviar as materias por email. Agora eu tenho reuniao segundas, pra decidir as pautas do proximo jornal junto com o editor chefe, e terca com todos os outros editores pra ver que materias vao na capa e etc. Nas quartas a noite acabou a farra (porque eu comecava a sair pros bares nas quartas-feiras), e eu vou estar sempre ajudando no fechamento ateh de madrugada, porque o jornal sai na quinta. 

Com esse emprego de editora e mais o de reporter no Yearbook que eles tem (um livro LINDO que eles publicam todo fim de ano com tudo o que aconteceu na universidade) eu vou largar o emprego de garconete (que pena, agora que eu tava ficando boa, not). 

To muito feliz com isso tudo, antes de eu chegar aqui em Pittsburg tudo o que eu sonhava era conseguir escrever materias pra esse jornal, que eu ja conhecia pelo site. Uma semana depois que eu cheguei, em janeiro, eu estava sentada na reuniao de pauta sem nem saber falar ingles direito. E sete meses depois eu to ajudando a decidir como fazer esse jornal, e isso eh muito legal. Valeu muito a pena o meu esforco e o dos meus pais pra eu ficar aqui mais um semestre. “Quando tudo nos parece dar errado, acontecem coisas boas que nao teriam acontecido se tudo tivesse dado certo,” li essa frase essa semana e achei muito adequada.

Esta cada vez mais dificil pensar em ir embora daqui a quatro meses..

domingo, 5 de agosto de 2012

O emprego de garconete que vai me levar pro show do Red Hot Chili Peppers


Tudo comecou semestre passado, quando eu estava encontrando todos os motivos possiveis pra ficar nos Estados Unidos mais tempo e comecei a distribuir curriculo em todos os lugares.

Dai que eu fui parar na empresa que cuida de todos os restaurantes da universidade, e logico, como minha experiencia desde os 19 anos se resume a ser jornalista e somente isso, eu fui parar na posicao que nao exigia conhecimento previo dessa area de alimentacao: servir mesas.

E a minha primeira vez como garconete foi sexta-feira a noite. Tudo o que eu sabia eh que era um evento de gala pra pessoas ricas de Pittsburg, e que eu tinha que usar uma calca preta. Me deram uma camisa branca e prendi o cabelo, muito simples ateh aih, nao?

Um dia antes eu e os outros alunos que iam trabalhar (alguns americanos e alguns indianos) fomos ateh o lugar do jantar pra organizar tudo. Era num bairro rico de Pittsburg, soh com mansoes lindas de filme, que eu nem sabia que existiam aqui. A casa que sediou o evento tinha um salao gigante do lado, e lagos artificiais ao redor. O salao era todo decorado com animais empalhados, porque a familia, como quase todas aqui do Kansas, eh de cacadores. Entao tinha ursos empalhados, ursos esticados na parede, cabecas de veado no teto. Cada animal com uma plaquinha do lado com o nome do membro da familia que matou e a data. Juro que essa familia tirou uma boa porcentagem de veados das redondezas, porque tinha muitos. 

Nao que eu seja uma insensivel, mas esses animais empalhados nao me incomodam. Se voce eh um defensor voraz dos direitos dos animais nao venha morar no Kansas, porque vai ser conviver cadaveres por todo o lado. Se voce nao gosta de ver espingardas espalhadas pela casa, assim, como se fossem sei la, tao comuns quanto uma vassoura escorada na parede, tambem nao venha. 






Pois bem, aos olhos dos ursos e veados nas paredes, trabalhei horas naquele dia soh organizando as mesas pro evento. Um trabalho muito relaxante, devo dizer, e muito mais facil do que ser jornalista. Em um segundo me ensinaram como colocar a faca, os garfos e as colheres ao redor do prato, e o resto foi um meio que ‘te vira com essas outras 24 mesas.’ 

No dia seguinte comecamos a trabalhar as quatro da tarde, pra organizar tudo. Eu nunca tinha servido mesas, e nunca nem prestei atencao em como os garcons fazem. Sei la, sempre estive do outro lado neh, sentada e sendo servida, nao vou mentir. Voce perde muitas frescuras durante um intercambio, e a ideia de server mesas acabou sendo bem normal pra mim, tipo, mais um jeito de eu ganhar dinheiro enquanto nao to escrevendo pro jornal, soh isso. Nao sei se no Brasil eu me imaginaria trabalhando com uma empresa de buffet como garconete, mas aqui eh o emprego que todo mundo tem.

Eu tava meio tensa em ter que servir, porque nao sabia mesmo como fazer, nao passei por treinamento, nada. Mas pensei que na pior das hipoteses, se eu derrubasse uma pilha de pratos ou copos, era tudo de plastico e nao ia ser tao constrangedor. Todos os pratos e talheres eram descartaveis (uma especie de plastico, mais sofisticado, e prateado), assim depois do evento tudo foi pro lixo. Sim porque neh, os Estados Unidos nao ligam pro meio ambiente e eles don’t give a shit se colocam uma tonelada de plastico no solo todo dia. (Coleta seletiva aqui no Kansas ainda eh um assunto desconhecido pelas mentes da maioria. Eles se espantam quando a gente diz que NO BRASIL nos reciclamos.)

Sei la, eu tava meio nervosa tambem porque ia server americanos e americanos sao sempre dificeis. (Eles sao muito diferentes dos brasileiros. Soh pra dar um exemplo, esses dias me esqueci que tava nos Estados Unidos e fui me despedir de uma amiga americana com um beijo e um abraco, habito de brasileiro acho, e foi tri estranho. Eles nao fazem isso.. Lembro que no dia do meu aniversario era na epoca que eu estava morando com uma americana e quando eu acordei eu esperava que ela me abracasse, e nada aconteceu. Ela me deu parabens no Facebook. E eles sao todos assim. Nao fazem por mal, eh soh uma cultura bem diferente..)

Bom, mas nada deu errado, e os americanos foram bem simpaticos comigo como garconete no final das contas. O evento se chamava Gorilla Gala (o mascote aqui da PSU eh um gorilla entao todos os eventos sao ‘gorilla something’), e era pra arrecadar dinheiro pros times da universidade. Por isso dos ricoes.. e por isso eles tambem eram todos velhinhos, pq rich people have money. Eu achava que ia server os gatos do futebol americano e me ferrei. Soh os vovos.

Me deixaram com as sobremesas, e meu trabalho antes do evento foi colocar cheese cake por cheese cake em 25 mesas (dez cheese cakes por mesa, tive tempo de pensar na vida). Depois disso coloquei jarras de agua em toooodas as mesas, e durante o jantar a minha funcao era ver se essa agua precisava ser recolocada.. alem de ver se as pessoas tinham terminado. Se estavam done era soh pegar o prato delas e jogar no lixo. Vou te dizer que realmente nao precisava ter tido treinamento pra isso mesmo. Foi bem ffacil. O meu problema maior era que quando alguem me pedia gelo, por exemplo, eu saia pra buscar e na volta nao conseguia lembrar quem tinha pedido. Ser garcom exige uma certa concentracao e foco, coisas que nao tenho. Por isso sou jornalista.

Depois que os convidados comeram teve um leilao, com um cara com uma camisa de estampa havaiana narrando os bids e tudo, coisa de filme. Eles leiloavam coisas do tipo bola de futebol americano autografada por valores absurdos. Fazia sentido, afinal, as pessoas que estavam la estavam jantando a $ 100 o prato.

$100 muito bem gastos na minha opiniao.. Porque a comida estava muito boa. Como eu sei isso? Bom, porque a melhor parte de ser garconete num evento de gala eh que depois que a janta termina eh a vez de os garcons  e os chefs comerem! Que comida mais deliciosa, meu deus. Nao sei se eu to ha muito tempo comendo hamburguer e pizza e comida do RU da universidade, ou o que.. mas comi muito bem.. aqueles files, camaroes e aquelas sobremesas foram um extase.

Naquela noite trabalhei ateh as duas da manha (porque a janta era open bar e todo mundo sabe que quando tem open bar os convidados nao tem pq ir pra casa cedo). Trabalhei 9 horas seguidas, e sai de la muito, muito cansada.

Mas sei que deu pra ganhar um bom dinheiro com esses dois dias trabalhando, e com ele comprei meu ingresso pra ver Red Hot Chilli Peppers em Tulsa em outubro.

Sounds fair to mee.